Cristina Altman
A Guerra Fria Estruturalista
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Cristina Altman
Cristina Altman
Professor Titular (= Full Professor) do Departamento de Lingüística da Universidade de São Paulo, onde atua desde 1983. Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1977), mestrado em Lingüística pela Universidade de São Paulo (1986) e doutorado em Lingüística pelas Universidades Católica de Louvain (Leuven, Bélgica) e de São Paulo (1993). Realizou estágios pós-doutorais na Universidade de Harvard e no M.I.T. (1999); na Universidade de Amsterdam (2006); no Instituto Iberoamericano de Berlin em duas ocasiões (2009 e 2014) e na Tokyo University of Foreign Studies (2010). Tem experiência na área de Lingüística, com ênfase em Pragmática, e trabalha principalmente em torno dos seguintes temas: historiografia lingüística, lingüística brasileira, gramáticas coloniais sul-americanas, estruturalismo lingüístico.
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Cristina Altman
A Guerra Fria Estruturalista
Em um mundo globalizado, talvez pareça não fazer muito sentido refletir sobre o conhecimento que temos produzido sobre a linguagem e as línguas do ponto de vista da sua geopolítica, sobretudo quando boa parte da Linguística do séc. XX se desenvolveu como uma ciência abstrata, formal e autônoma. Entretanto, em tempos de alta polarização como o que vivemos, é mais que tentador para o historiógrafo da linguística voltar sua reflexão para outros momentos intelectuais e procurar deles depreender categorias que o ajudem a melhor formular a dinâmica do seu próprio tempo.
O termo ‘linguística estrutural’ é um termo do século XX, cunhado em Praga por volta de 1928 ou 1929, provavelmente por Roman Jakobson (1896–1982). A partir dos anos 1930, a chamada linguística estrutural se desenvolveu em importantes centros acadêmicos além de Praga: Copenhagen, Genebra, Londres, Chicago e Yale, todos voltados para a descoberta gradual da estrutura sincrônica das línguas naturais. Embora comparáveis pelo objetivo comum, a rede de relações e influências entre a produção linguística destes vários centros é uma questão complexa e as oposições que criaram ajudaram a formatar boa parte de várias gerações de linguistas brasileiros.
Embora não seja um parâmetro racionalmente justificável, a percepção de que a pesquisa linguística brasileira viveu (e talvez ainda viva) uma espécie de guerra fria teórica e metodológica, transmudada em termos de tradições nacionais, europeias, ou norte-americanas, foi real e é o pano de fundo da presente fala. A historiografia aqui proposta revisita os primeiros circuitos de comunicação entre a linguística estrutural que se desenvolvia na Europa e nos Estados Unidos, desde as primeiras décadas do século XX, e a então emergente linguística brasileira, lato sensu, tal como se organizou nos pós-guerra, até sua efetiva institucionalização a partir dos anos 1960. As conclusões apontam para o fato que, embora a ciência não tenha nacionalidade, o cientista tem.