Leda Verdiani Tfouni
Letramento e Autoria: dispersão e deriva de sentidos
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Leda Verdiani Tfouni
Letramento e Autoria: dispersão e deriva de sentidos
De acordo com minha proposta de letramento, a relação entre “ser alfabetizado” e “ser letrado” não é de maneira alguma linear, o que acarreta um giro teórico e metodológico na questão, visto que deixamos de considerar indivíduos empíricos que fazem uso da língua escrita, mas antes posições de sujeito dentro do continuum do letramento. Trazer a questão da legitimação das práticas letradas para discussão implica considerar também o lado da perda, no sentido de que incorporaremos à pesquisa aquilo que Certeau menciona como “uma outra coisa”, que é calada, mas que retorna, “…escapando à dominação de uma economia sociocultural, à organização de uma razão, à escolarização obrigatória, ao poder de uma elite e, enfim, ao controle da consciência esclarecida.”. Refiro-me às chamadas “práticas orais”, que coexistem com a “economia escriturística”. Defendo a proposta de um continuum, a graduação de um saber sobre a escrita, que seria independente de “variáveis” tais como alfabetização, grau de escolaridade e tempo de escolarização. De acordo com o conceito de letramento que proponho, não é mais a língua que é considerada como parâmetro, mas os discursos que servem de suporte às práticas letradas. Também a dicotomia língua oral/língua escrita já não serve mais, diante da consideração de que tanto pode haver características de língua oral na escrita, quanto vice-versa, ou seja, o que está em questão não é se o sujeito é alfabetizado ou não, mas antes em que medida esse sujeito pode ocupar a posição de autor. Mobilizarei aqui os conceitos de dispersão e deriva para descrever como se dá o processo de autoria. Analiticamente, o sujeito ocupa a posição de autor quando retroage sobre o processo de produção de sentidos, procurando “amarrar” a dispersão que está sempre virtualmente se instalando, devido à equivocidade da língua. O autor, assim, produz aquilo que Lacan denominou de point de capiton, ponto de estofo, lugares do processo de enunciação onde há indícios de que o sujeito efetuou um movimento de retorno ao enunciado, e pode, assim, olhá-lo de um outro lugar. Se consegue cercar a dispersão através do processo descrito acima, o autor, no entanto, não irá nunca evitar a deriva de sentidos, que, como diz Pêcheux, equivale a um relançar infinito das significações, produto da equivocidade da língua. Ao longo da exposição, apresentarei análises de corpora.