Margarida Salomão
A guerra contra as Humanidades e o que podem nos ensinar os estudos da linguagem
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Margarida Salomão
Margarida Salomão
Margarida Salomão é professora da Universidade Federal de Juiz de Fora, com Doutorado e Pós-Doutorado pela Universidade da California, em Berkeley. Está deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores de Minas Gerais desde 2013. Foi reitora, reeleita, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) entre 1998 e 2006. Durante este período, foi também dirigente nacional da Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior. Em 2008, 2012 e 2016 foi candidata pelo PT à Prefeitura de Juiz de Fora, chegando todas as ocasiões no segundo turno.
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Margarida Salomão
A guerra contra as Humanidades e o que podem nos ensinar os estudos da linguagem
A guerra contra as Ciências Humanas e Sociais, deflagrada por vários governos no mundo ( manifestada como despriorização na politica de investimentos ou pela aberta hostilização ideológica), é uma das expressões mais fortes do obscurantismo contemporâneo. Sem dúvida, esse conflito se funda numa disposição mais geral, de negação das ciências, tema do livro de Steve Pinker, de 2019. O antagonismo com as Humanidades assenta, porém, em razão mais profunda: como forma de desconstrução da razão moderna, processo analisado por Foucault (1978/79) na “emergência da biopolítica”, e materializado em várias formas de corrosão da democracia, tema retomado por Wendy Brown (2006; 2018) e, também, sob outro ângulo, por Manuel Castells (2019).
A investigação da linguagem nos oferece duas formas de desmistificar a ofensiva contra as Ciências Humanas. A primeira, de perfil mais prático, é demonstrar o quanto estão presentes estudos da cognição e da sociedade nos desenvolvimentos tecnológicos mais prestigiados na nossa cultura.
Para esse fim, vou visitar o trabalho de dois dos mais importantes semanticistas do século passado, cujas ideias hoje inseminam tecnologias de valor inestimável: a saber, descobertas de George Lakoff sobre a semântica das gradações ( Lakoff 1972; 1973) e a proposição de redes conceptuais por Charles Fillmore ( Fillmore 1982; Fillmore e Atkins 1998). Minha segunda estratégia de reabilitação das Humanidades tem mais alto valor epistemológico e maior consequência ética: contempla o percurso evolucionário e histórico dos processos humanos de comunicação e cognição (Pinker 2010; Tomasello 2008; 2014; 2016). Aprendemos, então, que capacidades definidoras da espécie _ a linguagem, o “nicho cognitivo”_ só se constituíram e estruturaram na condição de “riqueza comum”, disposição coletiva, desenvolvida por todos e para todos.
Com base nessas ponderações sobre a capacidade da linguagem é que abordamos o presente paradoxo entre a ampliação da possibilidade humana de informação e comunicação e o encolhimento da democracia e da cidadania na sociedade contemporânea.