Questões identitárias em debate
Participants
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Lorena Borges
Lorena Borges
Lorena Borges é Professora Adjunta na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Doutora em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de Brasília (2015-2018), atuou como Professora Substituta no Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas da Universidade de Brasília, entre 2017 e 2019, ministrando disciplinas de Introdução à Linguística, Oficina de Produção de Textos, Redação Oficial, Português Instrumental, Leitura e Produção de Textos e História da Língua Portuguesa. Em 2015, atuou como professora formadora no Curso EaD África Arte-Educação: Construção de objetos pedagógicos. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Análise de Discurso Crítica, Gênero e Linguagem, Estudos Feministas, desenvolvendo estudos paralelos nas áreas de Antropologia do Imaginário e Ecolinguística.
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Ismar Inácio dos Santos Filho
Ismar Inácio dos Santos Filho
Ismar Filho é Professor Adjunto no Curso de Letras (UFAL-Campus do Sertão) desde 2013. Doutor em Lingüística (UFPE/2012), tem experiência docente na área de Pedagogia e Letras (Universidade Federal de Alagoas, Instituto Federal de Alagoas, Universidade do Estado de Alagoas e Universidade do Estado do Mato Grosso), com ênfase em Estudos em Linguagem (Linguística Aplicada; Linguística Queer), Formação de Professores e Construção Identitária, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino/aprendizagem, formação de professores, linguagem e construção identitária (gênero e sexualidade) e linguagem processos interativos midiáticos, incluindo as novas mídias. Exerce atividade docente na educação básica desde 1987 e no ensino superior desde 2000. Professor-líder do Gelasal (Grupo de Estudos em Linguística Aplicada em Questões do Sertão Alagoano), no Curso de Letras-UFAL-Campus do Sertão, que discute acerca dos processos de construção enunciativo-discursiva do Sertão alagoano, focalizando território, sujeitos e ensino e aprendizagem.
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Gina Vieira Ponte de Albuquerque
Gina Vieira Ponte de Albuquerque
Mestranda do Programa do Pós-Graduação em Linguística, da Universidade de Brasília, Gina Vieira Ponte de Albuquerque atua como professora da educação básica na Secretaria de Estado de Educação desde abril de 1991. É autora e executora do Projeto Mulheres Inspiradoras que foi agraciado com o 4º Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos, concedido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o 8º Prêmio Professores do Brasil, concedido pelo Ministério da Educação, o 10º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, concedido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, em parceria com o Conselho Nacional de Pesquisa e com o MEC. Ainda pelo projeto Mulheres Inspiradoras, recebeu também, o I Prêmio Ibero-americano de Educação em Direitos Humanos, pelo qual atua como embaixadora, tendo proferido mais de 20 palestras sobre Igualdade de Gênero e Educação em Direitos Humanos em escolas, universidades e centros de pesquisa. É defensora da educação para a igualdade étnico-racial e de gênero e concebe a educação como instrumento de fortalecimento da democracia e para a transformação social. É membro do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos.
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Rita de Cássia Souto Maior
Rita de Cássia Souto Maior
Professora de Graduação e Pós-graduação na Faculdade de Letras (Fale) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Rita de Cássia Souto Maior é doutora em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Literatura (PPGLL/Ufal). Atualmente é diretora da Fale/Ufal, membro titular do Colegiado do PPGLL/Ufal, Coordenadora do GT Ensino e Aprendizagem na Perspectiva da Linguística Aplicada (EAPLA) da Associação Nacional de Pós-graduação em Letras e Linguística (ANPOLL) e secretária da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN). Desenvolve pesquisas sob a perspectiva da Linguística Aplicada, articulando reflexões sobre o ensino e aprendizagem de Línguas (materna, estrangeira e Libras) e os estudos discursivos, com os seguintes temas: Estudos da subjetividade (identidade, ethos, self etc.), Produção Textual/discursiva em LM, LE e Libras e Formação Docente.
Mediator
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Luana Rafaela dos Santos de Souza
Luana Rafaela dos Santos de Souza
Luana Rafaela dos Santos de Souza possui mestrado em Dinâmica Territoriais e Cultura pelo Programa de Pós-graduação (ProDIC) da Universidade Estadual de Alagoas, na Linha de Pesquisa Território, Cultura e Saberes Locais, desenvolvendo investigações sobre as mulheres e as relações de gênero na literatura de cordel com ênfase na interdisciplinaridade entre a Cultura e a Literatura com aporte teórico da Linguística Queer. Pesquisadora do Grupo de Estudos em Linguística Aplicada em Questões do Sertão Alagoano (GELASAL). Graduou-se em Letras – Língua Portuguesa/Literatura brasileira pela Universidade Federal de Alagoas. Especialista em Educação, Contemporaneidade e Novas Tecnologias pela Universidade Federal do Vale do São Francisco. Como pesquisadora trabalha com as práticas discursivas voltadas para as questões sociais, de gênero, Histórias das Mulheres, cultura e literatura. Atualmente é professora na Rede Municipal de Paulo Afonso (BA).
Abstract →
Questões identitárias em debate
Esta mesa apresenta estudos e temas relevantes para as discussões sobre identidade. Lorena Borges, situada na intersecção entre os campos dos Estudos de Gênero e dos Estudos Críticos do Discurso, busca analisar como os discursos de ativistas (trans)feministas brasileiras acerca do corpo feminino têm interferido nos processos de identificação das mesmas. Ismar Inácio dos Santos Filho, sob escopo da Linguística Queer, na qual a noção “identidade” é rasurada, se volta às práticas subversivas que podem provocar e têm provocado desidentificações e novas identificações em modos de ser homens e mulheres. Gina Vieira, com a pesquisa “Programa Mulheres Inspiradoras e identidade docente: um estudo sobre pedagogia transgressiva de projeto, na perspectiva da análise de discurso crítica”, analisa significados acionados por meio dos gêneros discursivos, a fim de compreender os processos de construção, de agência e de autoria criativa docente, com foco nos eixos do conhecimento, do poder e da ética. Por fim, Rita de Cássia Souto Maior, entendendo que podemos propor narrativas de desnaturalização de práticas sociais perversas e considerando o espaço-tempo doméstico com uma das dimensões que constrói gerenciamento de sentidos, pretende refletir sobre os discursos e dimensões identitárias que permeiam a convivência familiar de mulheres pesquisadoras durante a Pandemia/COVID-19.
Propostas:
1. Lorena Borges
O corpo feminino e as identidades de ativistas (trans)feministas brasileiras: um estudo crítico do discurso
A presente investigação busca analisar como os discursos de ativistas (trans)feministas brasileiras acerca do corpo feminino têm interferido nos processos de identificação das mesmas. Situado na intersecção entre os campos dos Estudos de Gênero e dos Estudos Críticos do Discurso, este estudo se fundamenta nos aportes teórico-metodológico da Análise de Discurso Crítica (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999; FAIRCLOUGH, 2003, 2010, 2016), que, ao assumir o discurso como uma dimensão importante das práticas que compõem a vida social, disponibiliza um cabedal metodológico que permite o estudo da conexão entre as escolhas linguísticas das atoras sociais e as relações de poder que atravessam a sociedade. Para investigar como as ativistas (trans)feministas brasileiras se identificam discursivamente tendo o corpo como referência, foi mobilizada a categoria metáforas conceituais (LAKOFF; JONHSON, 2002). Nos estudos discursivos críticos, as metáforas são consideradas um traço identificacional, pois têm implicações na maneira como as pessoas se identificam por meio dos discursos, uma vez que “[…] ao selecioná-las num universo de outras possibilidades, o/a locutor/a compreende sua realidade e a identifica de maneira particular, embora orientada por aspectos culturais” (RAMALHO; RESENDE, 2001, p.146). Desse modo, as metáforas interferem nos processos de construção das identidades e materializam linguisticamente as diferentes maneiras por meio das quais o indivíduo molda a sua própria realidade. Na matriz discursiva analisada, foi possível mapear três metáforas estruturais nas quais o corpo feminino é implicado nos processos de identificação das participantes, sendo elas: meu corpo, meus limites; meu corpo, minha luta; meu corpo, meu ser (BORGES, 2018). A partir dessas metáforas é possível compreender a relevância que os corpos femininos possuem na construção identitária e, consequentemente, nas práticas de resistência de ativistas (trans)feministas.
2. Ismar Inácio dos Santos Filho
Textos cotidianos e políticas identitárias (rasuras queer em processo)
Ao pensar e tratar sobre sujeitos/corpos, o senso dominante ainda sustenta a ideia de que há “identidade”, pensada como uma substância. No tocante a gênero e a sexualidade, pauta-se na compreensão de que existe uma coerência interna e uma continuidade a partir do sexo. Entretanto, em nosso contexto de efervescência de modos de ser e de viver, essa noção de identidade é posta em xeque e outras vivências e narrativas ganham as cenas públicas, colocando as “identidades” em debate (ou seria melhor dizer em guerra?). Do embaralhamento das certezas identitárias e devido às reivindicações de liberdades, posições defensivas e ofensivas se inscrevem no fluxo textual que circula em nossas vidas, instituindo políticas identitárias, isto é, “programas” para vidas bem comportadas, aquelas vistas como normais, válidas, forjando ao mesmo tempo linguístico-discursivamente vidas não-válidas, matáveis. Desse contexto, instaurou-se em nosso país uma luta discursiva acerca do que é “ser homem” e “ser mulher”. Nessa discussão, interessa-me problematizar o “surto de criatividades”, em processo, que provoca rasuras em tais “políticas” ao realizar ressignificações e recontextualizações dos códigos inteligíveis, em textos cotidianos – capas de revista, cenas de telenovela e peças humorísticas, por exemplo, reivindicando liberdades de práticas e afetos. Assim, meu interesse se volta às práticas subversivas (menos às normatividades) que podem provocar e têm provocado desidentificações e outras novas identificações em modos de ser homens e mulheres. A reflexão está sob o escopo do que podemos denominar de Linguística Queer, entendida como uma linguística que “abala”, “fecha” e “faz carão”, preocupada com a vida, na qual a noção de “identidade” é rasurada, passando a ser compreendida como um constructo discursivo datado. O conceito de performatividade queer sustenta as leituras e as considerações do que chamamos de “rasuras queer em processo”.
3. Gina Vieira Ponte de Albuquerque
Programa Mulheres Inspiradoras- o protagonismo e a agência dos textos na perspectiva da Análise de Discurso Crítica
O Projeto Mulheres Inspiradoras foi criado em 2014, desenvolvido em uma escola de pública periférica de educação básica, junto a estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental. A partir da metodologia de Pedagogia de Projetos, a iniciativa propôs que os estudantes conhecessem a biografia de 10 grandes mulheres. Além de estudar a biografia de grandes mulheres, eles foram convidados a ler seis obras literárias escritas por mulheres, dentre essas, quatro obras de autoria de mulheres negras. O projeto foi agraciado com 13 prêmios e hoje é política pública em 40 unidades de ensino do DF, e em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A pesquisa “Programa Mulheres Inspiradoras (PMI) e identidade docente: um estudo sobre pedagogia transgressiva de projeto, na perspectiva da análise de discurso crítica” (ADC) , realizado na conjuntura de ampliação do projeto, teve como um dos seus objetivos analisar os significados acionais por meio dos gêneros discursivos explorados na formação do PMI, a fim de compreender os processos de construção de agência e de autoria criativa docente, com foco nos eixos do conhecimento, do poder e da ética. A partir deste objetivo, e da análise dos dados gerados, foi possível propor análises linguísticas relacionadas ao protagonismo dos textos trabalhados na realização do projeto. Todo o estudo partiu do arcabouço teórico baseado em Fairclough (1992, 2003) e Chouliaraki e Fairclough (1999). Também foram construídos diálogos interdisciplinares com outros campos teóricos a saber, a Pedagogia Crítica (FREIRE, 2018, GIROUX, 1997, e HOOKS, 2013), a Consciência Linguística Crítica (CLARCK, FAIRCLOUGH, IVANIC, MARTINS-JONES, 1996), Identidade docente ( NÓVOA, 2007, ARROYO, 2019), a Pedagogia Crítica de Projetos (HERNANDEZ, 1998; PRADO;2007; DIAS, COROA e LIMA, 2019), e o protagonismo dos textos como agentes (MAGALHÃES, 2017). A análise dos dados gerados apontou para a incidência de categorias linguísticas relacionadas às escolhas lexicais, às metáforas e à representação de atores sociais e de eventos, e permitiram concluir que os textos de autoria de mulheres negras exercem agência e protagonismo quanto a engajar estudantes e a propor a autoria e o fortalecimento da prática dos docentes participantes da pesquisa.
4. Rita de Cássia Souto Maior
O espaço-tempo doméstico da pesquisadora no período de Pandemia: a ética discursiva na construção das dimensões identitárias
Todas as dimensões de poder têm espaços discursivos que funcionam como reforço de uma ordem vigente dos sentidos, criando mecanismos de naturalização de práticas sociais. As “construções controladas” dos sentidos, atreladas aos sistemas econômicos e midiáticos globais, e, consequentemente, à construção de dimensões identitárias fossilizadas, são vetores ideológicos da constituição de éticas discursivas (SOUTO MAIOR, 2009, 2018). Os discursos, nesse âmbito, que refletem e refratam (BAKHTIN, 2013) como prática material e são constituídos nas interações sociais pela alteridade, são indícios para a investigação e para propostas de intervenção que podemos construir, através da ação do/a pesquisador/a (SOUTO MAIOR, 2019). Com as pesquisas, podemos propor narrativas de desnaturalização de práticas sociais perversas, a partir do engajamento em agendas políticas para a desaprendizagem na Linguística Aplicada (FABRÍCIO, 2006). Neste estudo, consideramos que o espaço-tempo doméstico (BOAVENTURA SANTOS, 2016), principalmente aquele que rege a ação da mulher no mundo, é uma das dimensões que constrói campos de gerenciamento de sentidos e pretendemos refletir sobre os discursos e dimensões identitárias que permeiam a convivência familiar das mulheres pesquisadoras do Grupo de Estudos Discurso, Ensino e Aprendizagem de Línguas e Literaturas (GEDEALL/UFAL), no quinto mês do período de Pandemia no Brasil no ano de 2020.