Maria Marta Pereira Scherre
Respeito Linguístico: contribuições da Sociolinguística Variacionista
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Maria Marta Pereira Scherre
Respeito Linguístico: contribuições da Sociolinguística Variacionista
Retomo no Abralin ao Vivo um tema com o qual me envolvi diretamente a partir de 2018, o Respeito Linguístico, contrapartida positiva do Preconceito Linguístico. Com base em Scherre (a sair em 2020), trago reflexões sobre contribuições da Sociolinguística Variacionista para o fortalecimento do respeito à variação da fala do outro e/ou da própria fala. Contextualizo minha fala em textos que explicitam os direitos linguísticos: a Declaração de Recife/Brasil, de 1987, e a Declaração de Barcelona/Espanha, de 1996, à luz da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Reitero que “é com relação às diferenças sociais que o respeito linguístico precisa ser mais claramente fomentado, porque (1) as características linguísticas que são índices de pertencimento a classes sociais menos favorecidas são naturalizadas como erradas […] e (2) o acesso amplo às variedades de prestígio é extremamente desigual” (SCHERRE, a sair em 2020). Lanço mão de análises de quatro fenômenos variáveis do português brasileiro aos quais me dediquei intensamente a partir de 1995, de mãos dadas com diversos orientandos e com olhos atentos a textos de muitos pesquisadores brasileiros, a saber: (I) imperativo gramatical, (II) pronomes de segunda pessoa, (III) coletivos de terceira pessoa do singular e (IV) pronomes de primeira pessoa do plural (FOEGER; YACOVENCO; SCHERRE, 2017; MATTOS; SCHERRE, 2017; NARO; GÖRSKI; FERNANDES, 1999; NARO; SCHERRE; FOEGER; BENFICA, 2017; SCHERRE, 2019; SCHERRE; ANDRADE; CATÃO, a sair em 2020; SCHERRE, DIAS; ANDRADE; MARTINS, 2015; SCHERRE; NARO; YACOVENCO, 2018; SCHERRE; YACOVENCO; PAIVA, 2019; TESCH; SCHERRE, a sair em 2020; YACOVENCO; SCHERRE; NARO; MENDONÇA; FOEGER; BENFICA, 2018; ZILLES, 2005, entre outros). Esses fenômenos exibem variação fortemente estruturada em termos linguísticos, mas com nível de consciência social e configuração social diferenciadas, ou seja, apresentam características de indicadores, de marcadores ou de estereótipos, nos termos de Labov (1994, p. 77-78). Reafirmo, com ênfase, que a “tradição gramatical não determina nossas interações discursivas orais. Somos nós, humanos, os verdadeiros agentes do silenciamento. Humanizar e democratizar é sempre preciso, especialmente por meio da linguagem, o nosso bem maior, inalienável, do qual somos senhores absolutos” (SCHERRE, 2019: 38), independentemente de tempos de pandemia viral, porque a pandemia sociolinguística, em parte provocada pelo preconceito e pela intolerância, sempre integrou nossas interações ao longo dos tempos (BAGNO, 2015; LEITE, 2008; SCHERRE, 2008; 2013; SCHERRE; NARO, 2014). Concluo que, para a gente provocar o surgimento do gene da civilidade, pelo menos um mantra deve permear nossos pensamentos e nortear nossas ações: a diversidade é a seiva da vida.