Da (im)polidez/ (des)cortesia à agressividade/ violência verbal
a conflitualidade emergente em ambiente digital
Participantes
Moderador(a)
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Leonor Werneck dos Santos
Leonor Werneck dos Santos
Professora Titular de Língua Portuguesa da UFRJ, onde atua desde 1995.
Mestrado e Doutorado em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).
Ex-professora de Ensino Fundamental e Médio. Professora de Língua Portuguesa da UFRJ (Faculdade de Letras), desde 1995.
Leitora votante do Prêmio anual da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), desde 2013.
Autora de diversos artigos e livros sobre ensino de língua portuguesa, referenciação, gêneros textuais, leitura e literatura infantil e juvenil.
Resumo →
Da (im)polidez/ (des)cortesia à agressividade/ violência verbal
a conflitualidade emergente em ambiente digital
[…] a theory of politeness is inevitably also a theory of impoliteness, since impoliteness is a non-observance or violation of the constraints of politeness. [Leech 2005: 18]
A (im)polidez/(des)cortesia e a agressividade/ violência verbal integram um campo de estudos que tem despertado o interesse de várias áreas de saber, desde a Linguística à Psicologia, da Antropologia ao Direito, assistindo-se, recentemente, a um progressivo desenvolvimento da interdisciplinaridade face aos fenómenos de violência crescente na comunicação digital. O primado da internet e a obsessão compulsiva de publicação nas redes sociais suscita naturalmente um crescendo de fenómenos de violência verbal. Combate verbal, esgrimir radical de argumentos ou construção da concórdia/conflitualidade nas interações verbais? Há várias décadas que os especialistas se questionam sobre as recursos linguístico-discursivos que regem as interações verbais e, na atualidade, assiste-se a uma tendência crescente para a investigação sobre impolidez e agressividade (Jobert 2010: 5). Assumindo a complementaridade dos conceitos, privilegiaremos, nesta mesa-redonda, uma abordagem não dicotômica do fenômeno polidez/cortesia versus agressividade/violência, mas preferencialmente uma visão dinâmica, entendida como um continuum. Nossa opção apresenta pleno alinhamento com a proposta de Rahardi (2017), ao convocar uma tipologia para a impolidez linguística em perspectiva sociopragmática, que reúne atos impolidos de natureza diversificada, que colaboram, em certa medida, para a potencial promoção de interações permeadas por violência verbal. Embora o discurso agressivo ocorra maioritariamente em contextos de polaridade, de polêmica, de adversidade, em que se expõem e contrapõem argumentos que visam atacar a face do interlocutor, quando se trata de redes sociais, a conflitualidade não decorre necessariamente de um dissenso ou de um tema fraturante. As estratégias a serviço da agressividade e da violência verbal são inúmeras, e podem ser estudadas a partir de abordagens distintas e complementares: desde a visão léxico-semântica que privilegia o estudo dos marcadores de indiferença e de ruptura, dos insultos, dos qualificadores pejorativos, da linguagem obscena até à abordagem discursivo-pragmática e interacional, em que se descortinam os atos ameaçadores da face, os rituais de humilhação, a ironia demolidora, a retórica da intolerância, analisando as estratégias que visam depreciar, estigmatizar ou denegrir o outro. O objetivo desta mesa-redonda é promover a reflexão e o debate sobre a complexidade das estratégias discursivas presentes em diferentes contextos, sobretudo aqueles em que se assiste a uma banalização crescente da agressividade/violência verbais, como o contexto político, mediático das redes sociais.