Dante Lucchesi
Homogeneização linguística e clivagem etnossocial na história sociolinguística do Brasil
Conferencista
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Dante Lucchesi
Dante Lucchesi
Dante Lucchesi é Professor Titular de Língua Portuguesa da Universidade Federal Fluminense, bolsista de produtividade em Pesquisa, nível 1B, do CNPq, tendo sido membro titular do Comitê Assessor de Letras e Linguística desse órgão, de outubro de 2016 a julho de 2019. Doutorou-se em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2000. Coordena o Projeto Vertentes do Português do Estado da Bahia, em sua 4ª Fase: A norma culta e a polarização sociolinguística na cidade de Salvador – Bahia. Coordena também o Projeto de Estudo da Norma Culta Escrita – PENCE. Recebeu o Prêmio Jabuti (2º Lugar), no ano de 2016, na Categoria Teoria/Crítica Literária, Dicionários e Gramáticas, por seu livro Língua e Sociedade Partidas. Atua nas seguintes áreas de pesquisa: análise sociolinguística, história da linguística, contato entre línguas e história da língua portuguesa.
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Dante Lucchesi
Homogeneização linguística e clivagem etnossocial na história sociolinguística do Brasil
A história linguística do Brasil se insere no universo mais amplo da história linguística do continente americano. O colonialismo europeu produziu uma situação linguística sui generis, em que a imensa maioria da população da América fala uma língua europeia, e não uma língua autóctone, como acontece em praticamente todos os demais continentes. Os fatores que levaram a isso foram: o extermínio das populações autóctones, um processo de colonização massivo e a importação de cerca de dez milhões de africanos escravizados, que eram forçados a assimilar a língua do colonizador europeu. No Brasil, eram faladas mais de mil línguas indígenas no início da colonização, e foram trazidas para o Brasil cerca de 200 línguas africanas, com seus quase cinco milhões de falantes, entre meados do século XVI e meados do século XIX. Hoje, as línguas indígenas são menos de 200 (a maioria em vias de extinção), e nenhuma língua africana subsistiu no Brasil. Com cerca de 98% de sua população falando apenas o português, a história do Brasil se caracteriza por um violento processo de homogeneização linguística. Porém, a clivagem etnossocial e etnolinguística, predominantes ao longo de toda a formação da sociedade brasileira, se refletem hoje na polarização sociolinguística do Brasil, marcada ideologicamente pelo forte estigma que se abate sobre as características mais proeminentes da linguagem popular, exatamente aquelas que resultam da forma como o português foi adquirido por milhões de índios aculturados e africanos escravizados. Assim, o preconceito linguístico contra a linguagem popular nada mais é do que uma manifestação de racismo. E conhecer a história linguística do país é de grande valia para compreender os processos históricos que determinaram as configurações que a sociedade brasileira assume na atualidade.