Sempre que pensamos ou falamos sobre situações ou eventos atribuímos-lhes um estatuto na realidade. Assim sendo, uma questão crucial é: como conceptualizamos a realidade? A resposta para essa questão é essencial para a compreensão da categoria de tempo, uma vez que são as predicações temporais que permitem localizar a situação conceptualizada numa área específica da realidade. Um falante exprime o seu juízo sobre o estatuto de realidade de uma situação, servindo-se de formas da flexão do verbo ou de expressões modais. Grosso modo, em português, o uso das formas flexionais de passado e de presente, em sentença declarativa, indica que a situação pertence à realidade factual; o uso de formas e construções do futuro sugere que a situação descrita faz parte de uma  realidade projetada; e o uso de verbos modais ou do modo subjuntivo sinaliza que a situação descrita faz parte de uma realidade potencial. A apresentação, que se baseia teoricamente na Gramática Cognitiva de Langacker, tem por proposta destrinchar a relação entre o tempo e a conceptualização da realidade, apresentando e discutindo exemplos do português em uso.