Na tradição gramatical, a divisão do discurso em partes chamadas classes de palavras se baseia em critérios nocionais de natureza discreta, que acabam por criar a ilusão de uma abrangência universal, como se categorias próprias das línguas clássicas indo-europeias pudessem aplicar-se às demais línguas naturais. Todavia, a realidade é que a conhecida diversidade tipológica das línguas, assentada na relação não biunívoca entre as categorias ontológicas e as categorias gramaticais disponíveis, não tem deixado livre de problemas nem mesmo a distinção categorial entre nome e verbo. Essa realidade tipológica impõe a necessidade de questionar a universalidade das classes de palavras e levantar critérios mais relevantes de classificação. É justamente esse o objetivo desta apresentação: (I) discutir aspectos relevantes da definição das chamadas partes do discurso, restritas, todavia, às classes predicadoras, especialmente as de nomes e verbos, que exercem funções básicas de referenciar e predicar; (II) mostrar que o que identifica membros prototípicos dos nomes e dos verbos são propriedades interpessoais que se derivam dos papeis que essas categorias exercem no contexto interacional.