Discutir se há ou não necessidade de ensinar gramática é uma falsa questão: a questão verdadeira é o que, para que e como ensiná-la.”, dizem os PCN (1998, p. 28). Já abordada por especialistas das mais variadas linhas de investigação, a velha questão continua, entretanto, instigante e necessária, mediante o propósito de aliar o que se compreende como ensino de gramática às “práticas de Linguagem” (Leitura, Produção, Oralidade, Análise linguística/semiótica), sobretudo em fase de implementação da BNCC.

Qual é o objeto do ensino de Língua Portuguesa? Para que ensinar gramática? Que concepção ou concepções de gramática interessam ao ensino de Língua Portuguesa? O método uso > reflexão > uso pressupõe que conhecimentos gramaticais? A chamada prática de análise linguística pode prescindir do ensino de gramática? Que quadro teórico-descritivo dá conta dos objetivos/desafios do ensino de Língua Portuguesa? Qual é o papel da classificação/metalinguagem em uma abordagem reflexiva da gramática? Em que medida o ensino de gramática pode se aliar ao ensino do texto? O ensino centrado no texto implica abolir o ensino da sentença/palavra? Ensinar gramática a partir do texto é sempre produtivo metodologicamente? O que significa efetivamente usar o texto como pretexto para o ensino de gramática? O que fazer diante de fenômenos gramaticais variáveis comumente registrados nos mais diversos gêneros textuais? Como trabalhar norma-padrão em um ensino de gramática a partir dos usos, com tantas regras variáveis em ação?

Frente a diversas orientações pedagógicas que envolvem essas questões, apresentamos uma proposta que pretende ser conciliadora e cientificamente fundamentada: “o ensino de gramática em três eixos”. Queremos evitar fazer da área do ensino de Português espaço de defesa de território (todas as linhas d e pesquisa têm relevância para o ensino de Língua Portuguesa!) ou de preferências apaixonadas eivadas de achismos (é preciso testar hipóteses, avaliar cientificamente as experiências e avançar em metodologias). Desenvolvida no âmbito da Disciplina Gramática, variação e ensino, do Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS), a proposta de “ensino de gramática em três eixos” enfrenta três desafios: (i) fazer da sala de aula um espaço que permita a abordagem científica da gramática; (ii) reconhecer os recursos gramaticais como produtores de sentido, nos planos da leitura e da produção textuais nas práticas sociais; e (iii) trabalhar respeitosamente a diversidade linguística, sem negligenciar o valor social dos usos orais e escritos da língua.

Esperamos que o ensino de gramática em nossa conversa promova, a um só tempo, conhecimento científico, amplo acesso do cidadão à cultura letrada e pleno respeito à diversidade linguística.