Konstanze Jungbluth
Garimpando a fala dos tempos passados: como nasce uma língua?
Conferencista
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Konstanze Jungbluth
Garimpando a fala dos tempos passados: como nasce uma língua?
Falar uma língua é atividade, é energeia (COSERIU 1988), surge no diálogo. O distanciamento desfavorece o seu uso. Contextos de contato entre falantes de línguas diferentes, são sobretudo as pessoas empenhadas em negociar, trocar objetos ou fazer acordos que criam palavras e estruturas novas para comunicar-se entre si. Esse esforço discursivo e sua repetição pode se tornar um falar próprio, que, ao longo do tempo e em condições históricas favoráveis, pode transformar-se em uma língua histórica natural. As línguas românicas exemplificam esse processo. Todas surgem de um contexto plurilíngue.
Esta conferência analisa um aspecto da pragmática histórica a partir de um contexto lusófono infelizmente ainda pouco estudado por linguistas. Criado por várias comunidades de fala em movimento nas praias ao longo da costa da África, demostrarei a ascensão e o uso do ‘Falar de Guiné’ (ALMADA 1964), também chamado ‘Kust-Portugees’ pelos holandeses (DAKUBU 2012; JUNGBLUTH 2018). Foi criado por várias comunidades de prática (WENGER 1998; FALCON 2012) em movimento (!) nas praias ao longo da costa de África Ocidental. As suas atividades giravam ao redor do pólo São Jorge da Mina, feitoria e fortaleza portuguesa, construída em 1482.
A partir desse contexto, proponho que todas as línguas podem ser chamadas “our creolized tongues“ (ABOH 2019; cf. Línguas românicas – um caso de crioulização? SCHLIEBEN-LANGE 1977). Nesse processo de surgimento de uma língua, seja ela chamada de pidgin ou de crioulo (MUFWENE prelo) considero que não haja uma quebra de comunicação (BICKERTON 1988; McWHORTER 2018). Ao contrário, neste período o português ganhou centenas e centenas de falantes novos (HONRSBY 2015)!
No bojo dessa discussão, vamos garimpar a fala dos tempos passados onde marinheiros, africanos e europeus, portugueses estabelecidos nas praias e no interior sem licença, ‘os lançados’, a gente da terra, incluindo as senhoras (JUNGBLUTH / DA MILANO prelo) e os filhos da terra (CABRAL 2015) estavam em contato. O estudo minucioso da fala de tempos passados, quando línguas europeias e africanas, sobretudo da família Bantu, estavam em constante contato, permite conhecer melhor as condições que favorecem o surgimento, o uso e o possível desaparecimento de uma língua.